Era Melhor no Egito

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Nuno Figueiredo

06 de fev de 2009

· 4 min de leitura

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Este não é um texto religioso. Não importa a sua crença, acredito que já deva ter ouvido sobre Moisés, que libertou os escravos judeus no Egito, do jugo do faraó.

Pela Bíblia, Deus deu a Moisés poder para, entre outros milagres, acionar as 10 pragas para convencer o faraó a libertar os escravos. São elas: transformar a água em sangue, a praga das rãs, a dos piolhos, a das moscas, a praga nos animais, sarna que rebentava em úlceras, dos trovões e da chuva de granizo, a dos gafanhotos, os três dias de escuridão e a pior delas, a da morte dos primogênitos.

O mesmo Moisés, quando estava indo com os escravos recém libertados, fez o mar vermelho se abrir para que o seu povo pudesse escapar da perseguição dos egípcios.

Finalmente, no meio do deserto, ele desce do monte Sinai e quebra as tábuas da lei, porque viu que os homens que o seguiam estavam se revoltando, reclamando de tudo que era possível e dizendo que não deviam ter seguido este caminho: “era melhor no Egito”.

Qual o moral da história?

Não consigo imaginar uma vida pior que a de um escravo. Por que alguém em sã consciência iria querer retornar a esta situação?

Quem viu tantos milagres e passou por um mar aberto, mesmo assim, quando surgem as primeiras adversidades quer retornar para a situação anterior, porque era melhor no Egito.

Como eu disse: este não é um texto religioso. Eu usei este exemplo apenas para chamar a atenção ao apego que temos ao passado, àquilo que nos é conhecido.

O tempo, mesmo curto, ameniza os problemas de ontem. Ficam somente as coisas boas. As ruins, com o passar dos dias, não parecem mais tão fortes. Nossa lembrança acaba, de uma forma ou de outra, guardando o que é bom de uma situação anterior. Talvez seja uma defesa para podermos seguir em frente, esquecer alguns traumas, convivermos com a morte, a perda de entes queridos, enfim, pode haver várias explicações que justificam porque os problemas de ontem ficam tão apequenados em nossa memória.

Ninguém gosta de mudanças. Sair da zona de conforto. Pode ser que melhore, mas o normal é esperar que piore. É necessário um empurrão em direção ao novo.

Nas primeiras dificuldades é fácil enxergar os mais resistentes à mudança. São os primeiros que dizem: “era melhor no Egito”.

A nossa atividade de implantar sistemas de gestão para transportes tem isso como cotidiano. Temos que mudar a forma das pessoas trabalharem, bem como os seus processos e algumas crenças. Implantar um sistema é promover a mudança, conviver com resistências e ouvir muito que “era melhor no Egito”.

Por isso o sucesso de uma mudança implica em motivar e engajar os envolvidos, promovendo a cenoura nas duas direções, movendo quem deseja alcançar ou fugir da mesma.

Na Signa, depois de mais de um ano de esforço, estamos finalizando um processo de certificação de qualidade do MPS-BR no nível F, equivalente ao CMM nível 2, que é uma certificação semelhante a ISO para área de software.

Essa certificação implica em mudar e rever processos, enfim é uma grande mudança, e como sempre ocorre, mesmo sendo para um mundo melhor, custa sangue, suor e lágrimas.

E o fim de uma ilusão. Achei que a equipe que no dia a dia promove mudanças de sistemas e enfrenta as resistências iria abraçar a nova realidade sem as atitudes que tanto gerencia em seus projetos. Ledo engano. Todos os humanos são iguais, e aqui como em outros lugares, já foi dito que “era melhor no Egito”.

Mas como diz a história de Moisés, para chegarmos à terra prometida temos que passar pelo deserto, enfrentar as dificuldades e obstáculos e lembrar a quem já esqueceu que nunca foi bom no Egito. Pelo menos para quem era escravo!

 

Nuno Figueiredo

Diretor Comercial
Signa Consultoria e Sistemas

Foto: Adam Bichler

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Ultimos comentários

Rafael Augusto

Muito bom...